quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Entrevista com Raúl Reyes, lider das FARC, morto em 2008

Entrevista concedida por Raúl Reyes à Revista Fórum dois meses antes de ser morto pelo Exército Colombiano. É um documento rico para compreendermos um pouco sobre a história, os objetivos e a geopolítica entorno das Forças Revolucionárias da Colômbia.  O movimento guerrilheiro mais antigo da América Latina. 

Fórum – Em 43 anos de luta, quais foram os grandes acertos e erros das Farc?
Reyes – O principal acerto das Farc foi ter sido criada como organização de oposição ao regime e converter-se hoje em uma opção de poder para governar a Colômbia. O erro, talvez por causa da guerra, foi não ter chegado ao poder. Porque as guerrilhas, em qualquer parte do mundo, que tenham planos bem definidos como a nossa, querem chegar ao poder e derrubar o regime governante. Em nosso caso, já passou todo esse tempo e não conseguimos ainda. Mas houve um importante desenvolvimento, uma experiência riquíssima. Conseguimos formar um grupo grande de jovens, homens e mulheres com capacidade de fazer qualquer trabalho revolucionário, dirigir organizações guerrilheiras grandes ou pequenas, capazes de aportar os conceitos políticos e ideológicos da organização, conhecimentos suficientes sobre as razões das lutas. Isso me dá a certeza de que um dia deixaremos de ser clandestinos e nos lançaremos à luz pública. Estamos satisfeitos por ser uma guerrilha independente, revolucionária, com ideologias e convicções inspiradas na Revolução Cubana, no Che, em Mao Tsé-Tung, em Ho Chi Minh e em nossa própria experiência, que é riquíssima.
Fórum – Mas o senhor acredita que a organização ainda pode chegar ao poder?
Reyes – Sobre isso não resta a menor dúvida: as Farc continuam lutando pelo poder e vão conseguir de qualquer maneira, seja pela via armada, seja pela via democrática, com acordos políticos. As Farc não fazem a guerra pela guerra. Fomos obrigados pelo Estado colombiano a fazer a guerra para nos defender e conseguir a paz. Todas as ações militares que as Farc realizam não possuem um caráter distinto do político. Porque somos uma organização com uma proposta de governo, uma proposta de Estado. Uma proposta para uma Colômbia diferente da que nos foi imposta pelos comandantes da oligarquia colombiana. As Farc não estão contra as eleições, porque somos uma organização comunista. Mas temos que saber quando poderemos participar de eleições e para quê. Se existe um processo que possibilite nossa participação, podemos participar e contribuir de alguma maneira. Caso contrário não faz sentido. Porque já tivemos a experiência do genocídio contra a União Patriótica.
Fórum – Como seria um governo das Farc?
Reyes – Seria um governo do povo para o povo. Um governo bolivariano, antiimperialista. Um governo de integração e irmandade com todos os países do mundo e particularmente com os vizinhos da Colômbia. Um governo que trabalharia pela integração latino-americana, pela Pátria Grande e pelo socialismo. Teríamos que conformar um novo exército, mais bolivariano e que respeite os Direitos Humanos sem nunca usar as armas contra o povo. Desde 1994, as Farc têm uma proposta para um novo governo: pluralista, patriótico, democrático e de reconciliação nacional. Um governo que abrigue todos os setores: sociais, docentes, estudantis, feministas, camponeses, indígenas, intelectuais, jornalistas etc. Mas também da insurgência revolucionária e dos partidos de esquerda. Se existem setores do Pólo Democrático Alternativo (partido de esquerda) que querem estar aí, sejam bem-vindos. Assim como do Partido Liberal, do Partido Conservador, da Igreja Católica também. Convidamos os militares patriotas, bolivarianos. Quer dizer que é uma concertação política para um grande acordo nacional, pela paz, pela convivência.
Fórum – As Farc mantêm ligação com o narcotráfico?
Reyes – Nenhuma. As Farc só mantêm ligação com os camponeses, que por não terem garantias de crédito e de assistência do Estado recorrem à produção de coca. Mas eles não são narcotraficantes. São trabalhadores rurais, que em algumas regiões plantam coca e em outras a papoula. Quem compra deles esses produtos é que são os narcotraficantes. As Farc têm vínculos com esses trabalhadores rurais, assim como têm vínculos com os plantadores de soja, de milho, de feijão, criadores de gado. Cobramos impostos, não dos camponeses, mas de quem compra deles os produtos. Em troca não deixamos que os roubem nessas negociações e que paguem o que é justo.
Fórum – Os seqüestros extorsivos também são outra forma de arrecadação questionável…
Reyes – As Farc não seqüestram. O que fazemos é cobrar impostos daqueles que financiam a guerra na Colômbia, como está previsto na lei 002, aprovada pelo Estado Maior central de nossa organização. Todos que têm patrimônio de mais de US$ 1 milhão têm de pagar 10% do que arrecadam para as Farc. Alguns pagam voluntariamente, outros se negam a pagar. E quando não pagam, prendemos até que paguem. Fazemos o mesmo que fazem os governos de todo o mundo com aqueles que não pagam impostos.

Entrevista na íntegra: http://www.revistaforum.com.br/blog/2012/02/raul-reyes-a-voz-das-farc-2/

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Matéria do Fantástico sobre o Estado Islâmico


Esta é uma matéria do Fantástico exibida no final de agosto (24). É uma matéria que traz algumas informações importantes sobre o Estado Islâmico como: a sua estratégia de propaganda por meio de vídeos na internet, o recrutamento de ocidentais, a relação entre os membros do Estado Islâmico e a Guerra Civil na Síria, o financiamento do EI a partir de poços de petróleo localizados nos territórios ocupados, normas radicais em relação as práticas e comportamentos, etc. 
No entanto, é preciso ressaltar que a matéria não aprofunda nas reais causas para o surgimento do EI e sua expansão na Região. Assim como outros grupos terroristas extremistas como a Al Qaeda, o EI é fruto de processos contraditórios envolvendo as potencias ocidentais, em particular os EUA, no Oriente Médio e Norte da África. Neste sentido, é necessário apontar algumas questões: 
1- Os membros do EI são adeptos do Islamismo, na sua vertente Sunita. Sadam Hussein, enquanto Sunita, governou o Iraque por décadas, um país de maioria Xiita. Com a queda de Sadam Hussein, os Sunitas passaram a ser marginalizados, na medida em que poder político do país passou para as mãos dos Xiitas, com aval dos EUA. Portanto, o surgimento do EI no Iraque não é por acaso. Surgiu com essas características a partir de desocupação estadunidense a partir de 2011; 
2- O arsenal do EI, em grande parte, provém das próprias potenciais ocidentais. Com seu processo de expansão territorial, o EI passou a tomar os armamentos do Exército Iraquiano (corrupto e despreparado) e também dos rebeldes da Síria, que possui o apoio das potenciais ocidentais contra o Governo do Presidente Bashar al-Assad; 
3-A mídia ocidental, ligada aos EUA e seus aliados, reforça a ideia de que o fundamentalistas/extremistas pregam valores que vão de encontro a valores universais como a liberdade e a dignidade humana. No entanto, há governos muçulmanos aliados dos EUA onde as normas são muito rígidas, sobretudo para as mulheres, como é o caso da Arábia Saudita; 
4- Outra questão negada pela matéria refere-se a uma das principais causas para a expansão do fundamentalismo religioso na Região. Até Segunda Guerra Mundial, o Oriente Médio era composto por Territórios controlados pelas potências Europeias, em particular, o Reino Unido. Com o processo de independência após a Guerra, foram surgindo vários países. No entanto, apesar de independentes politicamente, tais países ainda mantinham relações subalternas com as potencias ocidentais, que possuíam (e possuem) fortes interesses no recurso natural abundante na Região, o Petróleo. Esses países, por sua vez, passaram a ser governados por Ditaduras (algumas teocráticas) controladas por uma elite local, que, via de regra, mantinha boas relações com as potencias ocidentais.  Por outro lado, o povo desses países, a população mais pobre, historicamente tem passado por grandes dificuldades em termos de empregos e qualidade de vida. Ou seja, apesar de serem ricos, a política de geração de empregos e de serviços públicos como Educação e Saúde são precários. Neste contexto, por carência material e falta de informação, parte da população identifica-se com a proposta extremistas de grupos como o EI. 

Portanto, compreender o EI não é fácil. É um fenômeno complexo que envolve questões históricas, econômicas, étnicas e religiosas. Devemos sempre ficar atentos e buscar informações. 

Algumas matérias: 

Curdos resistem ao Estado Islâmico
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/10/curdos-resistem-e-estado-islamico-envia-reforcos-a-kobane.html

Britânicos treinam o Exército do Iraque para combater o EI e outras informações sobre o EI: 
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/10/britanicos-treinam-tropas-iraquianas-para-combater-estado-islamico.html



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mobilidade urbana: Proposta do MPL

Na última aula (semana:06 a 10/10) para os 2os Anos discutimos a questão do transporte urbano e os problemas atuais com a mobilidade urbana. Na ocasião, abordamos a importância que os deslocamentos pela cidade vem ganhando nas últimas décadas. Além disso, conceituamos os diferentes tipos de transporte urbano, destacamos os problemas da mobilidade urbana, suas causas, soluções e entraves. Lembram disso? 
Nesta postagem divulgamos um vídeo do Passe Livre de São Paulo (MPL). O MPL é um movimento social que surgiu na última década a partir da intensificação dos problemas da mobilidade urbana pelo Brasil afora. Este movimento urbano preconiza que a mobilidade urbana deva ser considerada um Direito, ou seja, independente da condição social (não só renda, mas também idade, limites físicos, etc), todo/a brasileiro/a deveria ter condições de se deslocar no espaço urbano para realizar as suas necessidades. No entanto, no Brasil esse Direito ainda não é reconhecido pela Legislação. 


Aliás, segundo o MPL, um dos entraves para o reconhecimento desse Direito são as empresas de ônibus que exploram o Transporte Público. Conforme veremos no vídeo abaixo, o fato da lógica das empresas serem baseadas no lucro e na competitividade (e não na prestação de serviço público), impõe grandes limites para se resolver os problemas da mobilidade urbana. 




Saiba mais: 
http://saopaulo.mpl.org.br/ - MPL São Paulo 
http://passelivrees.blogspot.com.br/- MPL Grande Vitória
http://tarifazero.org/ - Coletivo Tarifa Zero